Em 16 de maio deste ano, confirmou-se um caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Bastou a divulgação deste único caso em 22 de maio para que China, União Europeia e Chile interrompessem temporariamente as importações de frango brasileiras com base em protocolo de vazio sanitário. Dois meses depois, o governo federal brasileiro segue trabalhando junto ao mercado internacional para resgatar a confiança na segurança sanitária da produção de carne de frango do Brasil. Nesse contexto, evidencia-se a importância de um imperativo comum em todos os sub-ramos do agronegócio: a rastreabilidade da cadeia produtiva.
 
O agronegócio brasileiro, um pilar robusto da economia nacional e um dos maiores produtores de alimentos do mundo, está em um ponto de inflexão estratégico. A sustentabilidade e a rastreabilidade, antes vistas como diferenciais competitivos, agora são imperativos para o acesso a mercados, tanto domésticos quanto internacionais. Apesar de o Brasil ser exemplo na adoção de práticas agrícolas sustentáveis como o plantio direto e o uso de bioinsumos, resta muito que avançar na implementação de sistemas de rastreabilidade impulsionados por tecnologias como blockchain. O país se destaca na adoção de práticas sustentáveis, com mais da metade (55%) dos agricultores utilizando produtos biológicos para controle de pragas e doenças, superando as taxas de adoção na União Europeia e nos EUA. Mais de 80% das fazendas adotam o sistema de plantio direto (SPD), que preserva o solo e contribui para a redução de emissões de carbono. A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) abrange 18 milhões de hectares, com projeção de dobrar até 2030, e o Brasil é referência mundial na logística reversa de embalagens plásticas vazias de defensivos agrícolas, com 100% coletado e 97% reciclado. Na pecuária, o Brasil alia o crescimento da produção à sustentabilidade, com a produtividade por unidade de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) crescendo continuamente (3,92% na pecuária e 3,93% na agricultura entre 1990 e 2020).
 
Apesar do progresso notável, os desafios são diversos. Economicamente, a implementação de práticas sustentáveis e tecnologias de rastreabilidade envolve um alto custo inicial, percebido como uma barreira significativa, especialmente para pequenas e médias empresas. Uma pesquisa da Embrapa, por exemplo, indica que o valor do investimento em soluções digitais “assusta” 67% dos agricultores. Há falta de incentivos específicos direcionados para tecnologias de rastreabilidade, e as altas taxas de juros e a volatilidade econômica podem desestimular investimentos de longo prazo. Além disso, um déficit de 122 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem de grãos e a falta de logística moderna expõem as colheitas a riscos climáticos e pragas, afetando a lucratividade e a sustentabilidade econômica.
 
Na seara regulatória, o cenário é complexo e em constante evolução, exigindo adaptação contínua. Novas pressões internacionais, como a Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), impõem requisitos rigorosos às exportações brasileiras, podendo criar barreiras não tarifárias e impactar negativamente as perspectivas de exportação. Apesar das regulamentações existentes, a fiscalização é frequentemente insuficiente, especialmente para produtores de pequeno porte e intermediários, o que pode comprometer a efetividade da implementação das normas de rastreabilidade. Tecnicamente, a baixa conectividade rural, com apenas 30% das propriedades rurais no Brasil tendo acesso à internet, limita severamente o uso de tecnologias de comunicação e coleta de dados, como a agricultura de precisão e os sistemas de rastreabilidade. Há também a gestão da informação, com dados opacos, confusos ou ausentes desde as etapas iniciais da produção do alimento, e a falta de padronização de dados entre os diversos participantes da cadeia de suprimentos complica a integração e troca eficiente de informações.
 
Socialmente, o baixo nível educacional e a rara assistência técnica entre pequenos produtores dificultam a adoção e o manejo de sistemas complexos de rastreabilidade e práticas sustentáveis. Pequenos agricultores expressam preocupações sobre como seus dados comerciais e pessoais serão utilizados por outras entidades na cadeia de valor, citando o medo de práticas comerciais injustas e de “aprisionamento” por fornecedores de tecnologia. O desperdício de alimentos é um problema grave no Brasil e na América Latina: estima-se que 6% das perdas mundiais de alimentos ocorram na região, com cerca de 15% dos alimentos disponíveis sendo perdidos ou desperdiçados anualmente. Questões fundiárias são mais uma ameaça à produção de alimentos e à sustentabilidade ambiental, contribuindo para a opacidade das cadeias e gerando insegurança alimentar.
 
Para grandes empresas do agronegócio, como a BRF (pecuária e frigoríficos) e a Amaggi (soja e outras commodities agrícolas), a rastreabilidade e a sustentabilidade afetam diretamente o revenue management de diversas maneiras. A capacidade de comprovar a origem sustentável e as práticas de produção, como a ausência de desmatamento na cadeia de soja é fundamental para acessar mercados premium e superar barreiras não tarifárias, como as impostas pela Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR). Para produtores de proteína animal, a rastreabilidade detalhada na pecuária e nos frigoríficos é crucial para gerenciar riscos sanitários e de qualidade. Um recall eficiente, possibilitado pela rastreabilidade, minimiza perdas financeiras e danos à reputação da marca em caso de contaminação. Isso se traduz em maior confiança do consumidor, que busca cada vez mais produtos com origem transparente e produzidos de forma responsável, e em potencial para cobrar preços mais altos por produtos com selo de sustentabilidade.
 
Em um cenário de crescentes exigências por sustentabilidade e rastreabilidade, e com a competição global cada vez mais acirrada, a capacidade de se adaptar e inovar é crucial. Para navegar com sucesso neste ambiente dinâmico e garantir que sua empresa esteja na vanguarda da sustentabilidade e rastreabilidade no agronegócio brasileiro, confie na Trust Insight para obter acesso rápido e validado a profissionais com conhecimento prático e atualizado, facilitando a tomada de decisão em fusões, aquisições, expansão de ecossistemas digitais e avaliações de mercado no Brasil.
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